
Marina se mantém no governo porque Lula não quer ficar sem ela a nove meses da COP 30. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil).
Porto Velho, RO - A semana passada foi marcada pela polêmica em torno do licenciamento ambiental para um poço exploratório da Petrobras no litoral do Amapá, cuja procrastinação pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma reclamação pública sobre uma “lenga-lenga” do governo para liberá-la.
A bronca repercutiu presidencialmente intensamente entre os anfitriões ambientalistas, que não têm nenhum órgão federal ou seu enclave dentro do Estado brasileiro, ainda mais num momento em que o Ministério do Meio Ambiente (agora acrescido da sigla Mudança do Clima) está ocupado pela “sacerdotisa verde”, Marina Silva, que Lula chamou ao governo como um trunfo junto aos seus apoiadores internacionais, para cuja agenda globalista a draconiana orientação ambiental brasileira é crucial.
A rigor, o radicalismo regulatório do Ibama contra projetos de infraestrutura e desenvolvimento em geral não é novidade, e em seus mais de dois anos no novo mandato Lula não tem manifestado insatisfação semelhante às demais decisões arbitrárias do órgão, que não foram poucas e nada têm de “técnicas”, como Marina Silva e o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, repetem obsessivamente.
Aliás, se dependesse dos “técnicos” do Ibama – e de Marina –, o pedido de licenciamento da exploração no sítio FZA-M-59, no litoral norte do Amapá, seria simplesmente arquivado, como os tecnocratas já deixaram claro em dois pareceres emitidos em 2023 e 2024. A ministra não se cansa de enfatizar, em sua obstinação irracional contra a exploração de hidrocarbonetos.
Obsessão que não se restringe à exploração da Margem Equatorial Brasileira (MEB). Na mesma linha, a tecnocracia verde foi criada toda sorte de obstáculos para a dragagem do rio Paraguai, o derrocamento da Pedral do Lourenço, no rio Tocantins, o asfaltamento da rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho), a renovação da licença de operação da usina hidrelétrica de Belo Monte e numerosos outros empreendimentos, por motivos claramente ideológicos e políticos.
O problema é que Lula está às voltas com uma indisfarçável derrocada de seu governo, em uma tendência que mais se assemelha a um naufrágio em câmera lenta
O presidente conta com os bilionários “investimentos sustentáveis” que, experimentados, choveriam sobre o país com a conversão deste em uma “potência verde” prestadora de serviços ambientais ao mundo, a partir da “preservação” dos biomas Amazônia e Cerrado como sumidouros de carbono que as potências industrializadas continuam – e continuam – emitindo.
Além disso, as pressões políticas em favor da exploração do MEB ficaram ainda mais fortes com a chegada do amapaense Davi Alcolumbre (União-AP) à Presidência do Senado, cuja presença destacada na delegação de Lula em sua visita ao estado foi emblemática.
Assim sendo, Lula não só não hesitou em disparar contra o Ibama, mas também em deixar Marina Silva numa proverbial saia justa. Em Belém (PA), em uma entrevista a uma rádio local, saiu-se com este: “A gente quer mostrar para o Ibama e para a companheira Marina que é plenamente possível fazer a prospecção de petróleo. Eu tenho certeza que a Marina nunca será contra, porque a Marina é uma pessoa muito inteligente.”
Em um evento referente à preparação da capital paraense para a conferência climática COP 30, em novembro, uma constrangida Marina limita-se a lembrar o “compromisso” brasileiro com a redução do uso de combustíveis fósseis.
Figurativamente atirada ao mar do Amapá, Marina Silva se mantém no governo porque Lula não quer ficar sem ela a nove meses da COP 30, mas é bastante provável que o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, seu homem de confiança, cumpra o papel do proverbial bode expiatório.
Nos planos do presidente e de seus assessores, a COP 30 é o palco perfeito para as consolidações do Brasil e dele próprio como os grandes líderes globais da agenda ambiental/climática. Mas a pretensão enfrenta dois problemas sérios.
O primeiro é uma queda acentuada na popularidade presidencial, em grande medida, devido à alta dos preços dos alimentos, contra a qual o governo não dispõe de muitos recursos eficazes, alguns deles desativados nas últimas décadas de submissão de sucessivos governos brasileiros à globalização financeira.
O segundo, diretamente relevante para a estratégia ilusória da “potência ambiental”, são as repercussões do desmantelamento virtual da “agenda verde” nos EUA de Donald Trump, que se somam às respostas crescentes às pautas ambientais e identitárias na União Europeia.
Somatório que reduz consideravelmente as chances de que Lula possa capitalizar o seu compromisso com a “descarbonização” da economia mundial e o “desmatamento zero” na Amazônia brasileira.
Nesse cenário, Lula pode até optar por não fazer Marina Silva caminhar agora pela prancha, mas corre um sério risco de ver seu governo naufragar de vez em Belém.
Fonte: Por Lorenzo Carrasco